quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Michel Maffesoli

1)- O RITMO DA VIDA
Pensar sem ódio nem raiva. Esta é uma das maneiras geniais que
Maffesoli propõe de analisar a sociedade contemporânea. Uma
alternativa livre para compreender e viver o mundo do jeito que ele
é. Nesta obra, Maffesoli retoma algumas de suas idéias mais caras e
nos contempla com novas noções sobre o conhecimento comum,
a 'religação' entre o indivíduo contemporâneo e seus ambientes
social e natural e o estar-junto. Mais uma vez provocador, desafia
intelectuais e jornalistas a despirem-se de suas verdades absolutas
para lidarem com a impossibilidade da domesticação do imaginário
contemporâneo construído no dia a dia das cidades. A transfiguração
do político, as histerias suscitadas pelas liquidações nos
shoppings, o mundo dos reality shows e o reino das paradas gays,
entre outras manifestações dos nossos tempos, demonstram que, ao
contrário de uma nova barbárie, buscamos o ritmo da vida no íntimo
de nossos sentidos e sensos comuns. Corpos tatuados, piercings,
blogs e grafites nos convidam a sensibilidades diversas que,
conjugadas à decadência das idolatrias da razão e do progresso,
rompem com as ilusões binárias entre o público e o privado,
valorizando as estéticas múltiplas dos espaços urbanos. Estéticas
harmonizadas por uma ambiência transversal que contamina o conjunto
de situações, fatos e sentimentos do cotidiano. Trata-se de uma
lógica instintiva, de uma compreensão da vida que passa pelos afetos
dos quais participamos coletivamente. Um processo de aproximação a
partir de uma intuição geral na qual os sentidos são parte
fundamental do jogo. É sobre estas imagens e sentidos que formam
comunidades, dando significância ao que poderia parecer insensato ou
imprevisível, que devemos pensar. 'O ritmo da vida' aborda os
sentidos produzidos em nome dos afetos comunitários.
2) - ELOGIO DA RAZAO SENSÍVEL
Um verdadeiro tratado de decifragem do mundo contemporâneo, que
opõe, às razões da Razão racionalizante, as intuições e as
fulgurâncias da Razão sensível. Uma maneira de abordar o real em sua
complexidade fluida, de levantar a topografia do imprevisível e do
incerto, de seguir as linhas de fusão e efervescência do social e de
perceber o rumor abafado das redistribuições da vida coletiva.
3) - O MISTÉRIO DA CONJUNÇAO
'O mistério da conjunção', de Michel Maffesoli, consegue, ao mesmo
tempo, sintetizar as idéias recorrentes do grande sociólogo francês
da pós-modernidade e avançar na sua perspectiva teórica
desbravadora. O autor consegue praticar uma sociologia poética, do
cotidiano, do presente e da vida 'como ela é'. Ao longo de seis
ensaios contundentes e na contramão do convencionalismo acadêmico,
Maffesoli sugere que a vida é feita de jogo, de encenação, de
astúcia, de ousadia e, principalmente, dos 'insignificantes'
acontecimentos de cada dia.
4) - O CONHECIMENTO COMUM
Como analista da pós-modernidade, Michel Maffesoli descreve o estado
de espírito de uma época sem resvalar para o dever-ser ou para o
moralismo politicamente correto sempre impiedoso com o presente e
estranhamente ingênuo em relação a um futuro radioso e longínquo.
Este livro mostra que compreender pode ser mais importante do que
explicar. É uma obra decisiva para pesquisadores em busca de uma
metodologia baseada na razão sensível, no pluralismo de idéias e na
valorização do cotidiano.
5) - A PARTE DO DIABO
RESUMO DA SUBVERSAO PÓS-MODERNA
Michel Maffesoli é um autor dionisíaco na vida real. Neste livro, 'A
parte do diabo', dedica-se a uma questão sombria dos nossos tempos -
o lugar do mal. Maffesoli discute de forma única o esvaziamento
político, a violência e os conflitos da pós-modernidade, analisando
fenômenos como raves, pegas automobilísticos e grandes shows de
rock.
6) - NOTAS SOBRE A POS-MODERNIDADE - O LUGAR FAZ O ELO
Michel Maffesoli apresenta nesta pequena obra, publicada em francês
em 2003, algumas reflexões sobre as noções de modernidade e pós-
modernidade, a história do indivíduo e da razão, num mundo chamado
de globalizado, mas onde predomina o tribal e o local. O espaço
urbano conquista novas dimensões, lúdicas e simbólicas, celebrando
uma 'socialidade' visível na efervescência da vida cotidiana, e no
reencanto do mundo favorecido pela tecnologia.
Jornal do Brasil / Data: 10/12/2005
Michel Maffesoli é como vinho
Saem no Brasil mais dois livros do sociólogo

Jorge Barcellos (Educador)

Depois da publicação de A parte do diabo, pensou-se que a
contribuição de Michel Maffesoli se encerrara. Afinal, é um dos
poucos autores que tiveram praticamente toda a sua obra traduzida no
Brasil, mesmo que circulando em ambientes intelectuais reduzidos.
Além disso, seus leitores queixavam-se há algum tempo da repetição
de temas, dentro do estilo circular e prolixo que caracteriza o
autor, que teima em retornar as mesmas questões, sejam das formas de
socialidade e a presença do dionisíaco em nossa cultura. Ledo engano.

A razão é que Michel Maffesoli retorna com dois novos livros. O
primeiro é Notas sobre pós-modernidade: o lugar faz o elo
(Atlântica), um conjunto de artigos curtos no qual o autor repassa
as idéias que o tornaram célebre: a caracterização da pós-
modernidade, a contraposição entre a razão sensível e a
sociabilidade, o mundo como jogo e a questão da duplicidade. O texto
possui uma análise de Patrick Tacussel que tem o objetivo de
apresentar sua obra. Resta saber porque o lugar escolhido foi o
final da obra. Coisas pós-modernas...

O segundo livro é O mistério da conjunção: ensaios sobre
comunicação, corpo e socialidade (Sulina). O autor avança em temas
até então inexplorados em sua obra: prostituição, tempo ocioso e
alimentação revelam-se como os novos lugares de uma socialidade das
sombras. O eixo de reflexão do autor desloca-se da sociabilidade
para a comunicação e reintroduz a sua preocupação com a dimensão da
vida cotidiana presente em obras anteriores.

Michel Maffesoli é um autor prolixo. Sociólogo, professor na
Sorbonne em Paris, Diretor do Centro de Estudos do Atual e do
Quotidiano, é editor da Revista Societés, uma das mais importantes
da área de Ciências Sociais. Traduzido nos Estados Unidos, Europa,
Japão e Brasil, chamou a atenção pelo calor de suas análises da
realidade humana em seus comportamentos mais frívolos. Analisando o
profano e o sagrado, as festas e os rituais, sempre de forma
minuciosa, Maffesoli provou o quanto a dimensão dionisíaca da
existência continua a perdurar. Ela é vital, pois funda a
sociabilidade e liga os sujeitos a partir do sentimento de
proximidade.

Com uma perspectiva libertária, ele pode ser um teórico de análise
imediata e da vida cotidiana, dimensões muitas vezes desprezadas
pelos intelectuais de plantão. Mas o faz como um grande defensor da
liberdade contra o autoritarismo. Isso não tem nada haver com uma
crítica ao Estado, modelo de tirania. Ao contrário, a crítica de
Maffesoli é dirigida à concepção técnica do mundo, onde tudo e todos
obedecem as leis científicas. A inspiração é Georg Simmel e Alfred
Schutz, para quem a experiência coletiva e as relações
intersubjetivas ocupam o primeiro plano.

Notas sobre pós-modernidade parte da critica às ideologias, aquilo
que Jean-François Lyotard chamou de ''grandes relatos de
referência''. Para Maffesoli, o marxismo, o freudismo e o
funcionalismo são sistemas monistas que se apoiam no causalismo
exclusivo e excludente. Sistemas exclusivos porque a causa
identificada é determinante, sobredeterminante, hegemônica,
unificada. Excludentes, porque não há salvação fora do modelo
explicativo que tal causa supostamente fornece. A consequência é a
produção de um fideísmo rigoroso, rodeado de fanáticos e seus
dogmatismos.

O mistério da conjunção é traduzido por Juremir Machado da Silva,
especialista na obra do autor e que nos anos 90 foi um dos grandes
divulgadores de sua obra no Brasil. Maffesoli aqui abusa de suas
noções de praxe como orgia, socialidade, tribo, emoção e
estética ''pretendo mostrar que o laço social não é mais unicamente
contratual, mas contém boa parte de não racional, de não lógico,
algo que se exprime na efervescência de todas as formas ritualizadas
(esporte, música, canções, consumo, consumição, revoltas, explosões
sociais) em geral, totalmente espontâneas''.

Boa parte da curiosidade deste volume encontra-se no capítulo
dedicado à interpretação da prostituição. Em ''A prostituição como
forma de socialidade'', Maffesoli retoma o tema de ''A sombra de
Dionísio'' para mostrar que o sexo, e não o trabalho, é o verdadeiro
motor da história. Ele vale-se de exemplos históricos que mostram a
centralidade da prostituição na vida social.

Já em Notas sobre pós-modernidade chama a atenção a exploração do
conceito de ''duplicidade'', já presente em obras anteriores. A
idéia de que o individuo é fragmentado, que vive em tensão
permanente entre o que é e o que gostaria de ser é o centro do
capítulo. Para Maffesoli, a razão humana procura a unidade, o
idêntico, mas nada pode fazer contra os sentimentos e afetos que nos
levam a turbulência e a vida desregrada que se revela nas artimanhas
do dia a dia, nos subterfúgios contra a dominação, no espírito
rebelde e na revolta contra o mundo. ''É por ser múltiplo em si
mesmo que o indivíduo não se reconhece na rigidez social''.

A obra de Maffesoli é o testemunho de um sobrevivente intelectual.
Num mundo dominado pela razão ele afirma o sentimento; num mundo em
que impera a tecnologia, ele busca as estruturas arcaicas presentes
no dia a dia. Maffesoli pode já ter passado pelo seu grande momento
teórico, que muitos consideram que ocorreu com a publicação de O
tempo das tribos. Mas um bom autor é como vinho, fica melhor com o
passar do tempo. Se aqui e ali, uma ou outra idéia aparece como um
eco perdido ao longo de sua obra, vale lembrar que os exemplos são
atuais e a proposta, meritória: provar que o imaginário, em sonhos e
fantasias, é ainda ''ópera clandestina de que somos os frágeis
atores''. Seu sucesso é devido a insistência com que se debruça
sobre nossas crenças coletivas; é devido menos a análise sociológica
do que a sua contribuição antropológica. Não se espere grande
renovação analítica com estas obras. Ao contrario, é por ser
teimosamente repetitivo que as respostas de Maffesoli não nos deixam
indiferentes ao mundo.
LEIA O PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO O CONHECIMENTO COMUM:
http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capitulo/5062507.pdf

Um comentário:

AfonsoHRAlves disse...

bem legal a leitura de várias obras assim dessa maneira.
eu também sou um apreciador da escrita de Maffesoli.